segunda-feira, 5 de abril de 2010

As vezes no silêncio..

E eis que , de repente, um silêncio tomou conta de todos...
Não uma simples pausa na conversa,
mas aquele silêncio que é capaz de revelar
até as profundezas de nossas intenções mais recônditas

Penetrando nas entranhas do Ser
ele vasculhava e revirava
como alguém que procura um pertence
há muito tempo perdido..
Embora alguns já tivessem se esquecido
no meio daquela bagunça toda
achou dúvidas submersas aos montes

E O silêncio seguia de modo indefinido..
O seu prolongamento continuava lentamente,
como alguém que com destreza se aproxima de todos.

A quietude indicava um sinal claro de omissão vacilante;
que de alguma forma perturbava os presentes.
Apesar disso, nenhum deles achavam meios, recursos,
sobretudo coragem, para vencê-lo, ou transcendê-lo.

Qualquer tentativa de intromissão
era esmagado pelo peso da tensão já criada;
pela culpa, medo e desconfiança gerada.

Olhares cabisbaixos se cruzavam
na esperança de uma possível reconciliação.
Tentativas de desviar o rumo da situação,
de entrar num estado de ânimo renovado,
eram drasticamente frustradas pela indiferênça.

O Silêncio havia se tornado sério e perturbador
O Seu peso era uma carga que todos custavam carregar

Dentro da caixa preta se apresentavam
a imensidão do escuro, o vazio infindável
e os fantasmas do desespero em prontidão
cada qual com seu quadro mudo
pregado na parede

Nenhum dos participantes era capaz
de admitir o que lhe tocava
muito menos de dizer que aquilo tudo
o pegara de surpresa
e trazia consigo sofrimentos reveladores

Antes quisesse recebê-los
como um estranho
um hóspede de longa data

Mas Não..

Não importava a razão do silêncio
ou o que ele trazia.
Apenas queriam a todo custo,
e o mais rápido possível,
estar livre daquele constrangimento.

Parecia que todos tinham o seu quinhão
e ninguém sairia ileso.
A Hora H estava prestes a soar,
e cada qual se aprontava
mirando sua estratégia de fuga..

E aconteceu que
passado a tensão do presságio
como uma flexa que é lançada
do braço de um homem forte
saíram todos da temerosa tensão do silêncio
a encobri-lo com dissimulações vãs,
observações momentâneas sem nexo,
pequenos falatórios sem profundidade,
e comentários de acontecimentos pretéritos sem muita relevância.

E o silêncio se despediu
como desnuda de uma roupa usada
foi mais uma vez
relegado ao esquecimento
frustrado pela desconfiança
levado pelo vento de outrora
a espera de outra noite
onde achasse guarida

Foi ele em esperança
a procura de um encontro
de ouvidos fortes
olhos corajosos
línguas gentis, sinceras e domadas
para que ali onde não se achou
se descubra algo mais
muito além de máscaras alertas

guto (2010/04)

3 comentários:

Rafael disse...

que bonito, Guto....
Parabéns pelo texto... verdadeiro e profundo, como tu costuma ser mesmo.
Não tem como não sentir amor pelo teu Ser ao se deparar com uma obra dessa.
Abraços

Antes era, agora é. disse...

Eu vejo o momento e o silêncio se apropriando pelo fato das máscaras estarem alertas. Pelo fato de estarem caídas.
Um beijo e aguardo mais escritos teus.

Antes era, agora é. disse...

Eu vejo o momento e o silêncio se apropriando pelo fato das máscaras estarem alertas. Pelo fato de estarem caídas.
Um beijo e aguardo mais escritos teus.