quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VERSOS ÁUREOS (Pitagoras)

Aos deuses, segundo as leis, presta justas homenagens;

Respeita o juramento, os heróis e os sábios;

Honra teus pais, teus reis, teus benfeitores;

Escolhe para teus amigos os melhores homens.

Sê obsequioso, sê fácil em negócio.

Não odeies teu amigo por faltas leves;

Serve com o teu poder a causa do bom direito:

Quem faz tudo o que pode faz sempre o que deve.

Mas sabe reprimir como um mestre severo,

O apetite, o sono, Vênus e a cólera.

Não peques contra a honra nem de longe nem de perto.

E só, sê para ti mesmo, rigorosa testemunha.

Sê justo em ações e não em palavras;

Não dês pretextos frívolos ao mal.

A sorte nos enriquece, ela pode empobrecer-nos:

Mas fracos ou poderosos devemos todos morrer.

Não sejas refratário à tua parte de dores.

Aceita o remédio útil e salutar,

E sabe que sempre os homens virtuosos,

São os menos infelizes dos mortais aflitos.

Que teu coração se resigne aos injustos colóquios;

Deixa falar o mundo e segue sempre teu caminho,

Mas não faças nada, sobretudo levado pelo exemplo

Que seja sem retidão e sem utilidade.

Faz caminhar em tua frente o conselho que te aclara

Para que a absurdidade não venha atrás.

A tolice é sempre a maior das desgraças

E o homem sem conselhos responde por seus erros.

Não obres sem saber, sê cioso para aprender.

Dá ao estudo um tempo que a felicidade deve restituir.

Não sejas negligente em cuidar da tua saúde;

Mas toma o necessário com sobriedade.

Tudo que não pode prejudicar é permitido na vida;

Sê elegante e puro sem excitar a inveja.

Foge à negligência e ao fausto insolente;

O luxo mais simples é o mais excelente.

Não procedas sem pensar no que vais fazer,

E reflete, à noite, sobre toda tua jornada.

Que fiz? Que ouvi? Que devo lastimar?

Para a justiça divina assim poderes subir



Eu tomo-te por testemunha: tetractys inefável,

Fonte inesgotável das formas e do tempo;

E tu que sabes orar, quando os deuses são por ti,

Conclui a tua obra e trabalha com fé.

Chegarás cedo e sem trabalho a conhecer

Donde procede, onde pára, para onde volta teu ser.

Sem temor e sem desejos saberás os segredos

Que a natureza vela aos mortais indiscretos.

Tu calcarás aos pés esta fraqueza humana

Que ao acaso e sem alvo conduz a fatalidade.

Saberás quem guia o futuro incerto,

E que demônio oculto segura os fios do destino.

Tu subirás então sobre o carro de luz.

Espírito vitorioso e rei da matéria,

Compreenderás de Deus o reino paternal

E poderás assentar-te numa calma eterna.

Versos Esmeraldinos

"É verdade, correto e sem falsidade, que o que está em baixo, é como é em cima, para cumprir-se a Grande Obra. Como todas as coisas derivam-se da Coisa Única, pela vontade e pela palavra daquele Único que as mentalizou, assim também tudo deve a sua existência a esta Unidade, pela ordem Natural, e tudo pode ser aperfeiçoado por adaptação àquela Mente.

Seu pai é o Sol; sua mãe a Lua, o Vento a transporta em seu ventre, sua nutriz é a Terra. Este ente é o pai de todas as coisas do Mundo. Seu poder é imenso e perfeito, quando novamente separada da Terra. Separas pois o Fogo da Terra, o sutil do denso, mas com cuidado, com grande habilidade e critério.

Ela sobe da Terra ao Céu e novamente desce à Terra, renascendo e assim tomando para sí o poder de Cima e o poder de Baixo. Desta forma o explendor do mundo será todo teu, possuirás todas as glórias do universo e quaisquer trevas afastar-se-ão de tí. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder; capaz de vencer todo o sutil e penetrar tudo o que é sólido. Do mesmo modo o universo é criado. De lá vem as realizações maravilhosas, e seu mecanismo é o mesmo.

É por isso que sou chamado Hermes Trismegistus, possuindo poder sobre os três aspectos da filosofia universal. O que eu disse da obra-mestra da Arte Alquímica, a Obra Solar, aqui está dito e encerra tudo."

A Tábua de Esmeralda - Hermes Trismegistus

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A paralexe cognitiva. (ou desvio sofistico do conhecimento real.)

"...Paralaxe cognitiva, em que o sujeito afirma precisamente o contrário daquilo que o seu próprio ato de afirmar demonstra da maneira mais patente. É o deslocamento radical entre o eixo da experiência intelectual efetiva e o da construção teórica supostamente baseada nela...Do fenômeno que denomino paralaxe conceitual -- o deslocamento entre o eixo da concepção teórica e o da perspectiva existencial concreta do pensador --, os exemplos são tantos, nos últimos séculos, que não me parece exagerado ver nele o traço mais geral e permanente do pensamento moderno. As idéias tornam-se aí a racionalização ficcional com que um intelectual se esforça para camuflar, legitimar ou mesmo impor como lei universal sua inaptidão de se conhecer, de arcar com suas responsabilidades morais, de se posicionar como homem perante a vida...paralaxe conceitual: desenhando o quadro do mundo desde um ponto de vista que não coincide em nada com o do seu próprio posto de observação no planeta Terra, ele se desvencilha da incômoda obrigação de dar à sua teoria o reforço do testemunho pessoal... Alguns leitores pedem-me mais explicações sobre a tal "paralaxe conceitual" que mencionei outro dia. Vou tentar. Toda afirmação filosófica sobre a realidade em geral, a humanidade em geral ou o conhecimento em geral inclui necessariamente, entre os objetos a que se aplica, a pessoa real do emissor e a situação de discurso na qual a afirmação é feita. O que quer que um homem diga sobre esses assuntos ele diz também sobre si mesmo. Ninguém tem o direito de constituir-se, sem mais nem menos, em exceção a uma teoria que pretenda versar sobre o gênero ou espécie a que ele próprio pertence. Essa elementar precaução metodológica foi negligenciada por praticamente todos os filósofos mais importantes do ciclo dito "moderno", assim como por muitas das escolas de pensamento que dominam o universo intelectual contemporâneo. Em resultado, temos uma imponente galeria de doutrinas que nada nos dizem sobre o mundo em que foram produzidas, nem muito menos sobre as pessoas reais que as criaram, mas tudo sobre um mundo inventado que não as inclui e que elas se limitam a observar desde fora, desde um imaginário posto de observação privilegiado. Esse posto de observação corresponde, estrutural e funcionalmente, ao do "narrador onisciente" nas obras de ficção, o qual não é afetado pelo curso dos acontecimentos narrados. Construídas com uma técnica ficcional, mas totalmente inconscientes do expediente que empregam, essas filosofias são obras de ficção que não ousam se apresentar como tais. Alguns exemplos: 1) Descartes diz que vai examinar seriamente os seus próprios pensamentos, e começa a fazê-lo sob forma de introspecção autobiográfica. No meio do caminho, perde o fio do seu eu pessoal e concreto, do seu eu biográfico, e começa a falar de um eu genérico e abstrato, o "eu filosófico". Ele nem se dá conta do salto, e acredita continuar fazendo autobiografia quando está fazendo apenas construção lógica. Ele acaba acreditando que é realmente esse eu filosófico, sob cuja sombra o eu real desaparece por completo. Resultado: sua auto-observação cai nos erros mais grosseiros, como por exemplo o de esquecer que a continuidade temporal do eu é um pressuposto do cogito e não uma conclusão obtida dele. 2) David Hume diz que nossas idéias gerais não têm valor cognitivo nenhum, porque são apenas aglomerados fortuitos de sensações corporais. Em nenhum instante ele se dá conta de que a filosofia de David Hume, compondo-se ela própria de idéias gerais assim formadas, também não pode valer grande coisa. O estado de alienação do filósofo ao criar sua filosofia não poderia ser mais completo. 3) Maquiavel ensina que o Príncipe deve conquistar o poder absoluto e em seguida livrar-se dos que o ajudaram a subir. Ora, quem pode ter ajudado mais ao Príncipe do que o filósofo que lhe ensinou a fórmula da conquista do poder absoluto? Se o Príncipe o levasse a sério, ele próprio, Nicolau Maquiavel, seria o primeiro a ser jogado no lixo junto com o seu livro, prova do crime. Contrariando o louvor geral que consagra Maquiavel como o primeiro observador "realista" da política, o Príncipe é um modelo idealizado que só pode ser descrito em literatura precisamente na medida em que nenhum contemporâneo logre encarná-lo na realidade. A alienação chega ao cúmulo quando Maquiavel diz que todos os males do Estado vêm dos intelectuais contemplativos que, não podendo atuar na política, teorizam sobre ela -- o que é precisamente o que ele está fazendo. Aliás, Otto Maria Carpeaux já havia assinalado que a visão que Maquiavel tem da política não é política: é estética. 4) Karl Marx assegura que só o proletariado, por ser a última e extrema vítima da alienação, pode apreender realisticamente o curso inteiro do processo alienante e, por isso, libertar-se dele. Só o proletariado, em suma, tem adequada consciência histórica. Mas não é mesmo uma coisa extraordinária que o primeiro, logo o primeiro a personificar essa consciência proletária seja um burguês? Não digo que isso seja impossível, mas, à luz da teoria marxista, é uma exceção notabilíssima e improvável. Karl Marx passa sobre ela com a maior inocência, sem nem de longe notar um desvio de foco, uma paralaxe entre o personagem que representa e o conteúdo das suas falas. No mundo de Karl Marx, não existe Karl Marx. E por aí vai. Ao exame meticuloso desses e de muitos outros casos similares tenho dedicado meus cursos desde há alguns anos. O lado mais interessante é a crítica ficcional da filosofia ficcional. De fato, os melhores observadores críticos da alienação filosófica foram os escritores de ficção, principalmente Dostoiévski, Kafka, Pirandello, Ionesco e Camus. Os Demônios, O Processo, Henrique IV, O Rinoceronte e O Estrangeiro são peças de um imenso requisitório literário contra as pretensões da filosofia moderna. Vale aí o contraste delineado por Saul Bellow entre o "intelectual" e o "escritor": de um lado, o construtor de alienações elegantes; de outro, o porta-voz das "impressões autênticas", verdades às vezes simplórias que estouram o balão intelectual. Já viram, né? Quando eu crescer, quero ser "escritor"... fonte: O deC.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

algumas reflexões

deixar viver significa deixar de negar algo que existe.

viver na graça é despropriação - não apetite de fruto - não considerar nem sequer fazedor do que empreende.

"Olhei Olhei e cheguei a ver
o que julgava que eras tu e tu
na verdade era eu e eu."
Desconhecido

"Não há Luz sem Sombra
Nem totalidade psíquica isenta de imperfeições...
A Vida não exige que sejamos perfeitos, mas completo;
e para isso, necessita o "espinho na carne",
o sofrimento dos defeitos, sem os quais,
não há progresso sem ascensão


"As características ou qualidades que a pessoa tenha recusado ver em si
serão atribuída a outros, como se ela lhe pusesse máscaras.
Então a pessoa tenderá a idealizar os portadores de suas projeções, rejeitá-los ou temê-los"
Jean Monbourquette

"Tudo aquilo que você foge e tudo que aspira, está dentro de você"
lama Zopa Rimpoché

"Se eu não possuo a mim mesmo, como posso me dar?"

"Durante os 35 anos de nossa vida, esforçamo-nos para subir uma longa escada, com o objetivo
de alcançar o alto do edifício; depois, uma vez sobre o telhado, descobrimos que erramos de edifício."
Joseph Campbell

"Não há senão um problema, oferecer aos Homens um significado Espiritual.."
Saint-Exupéry


visitem ainda:

http://editoraadvaita.blogspot.com/2009_11_13_archive.html

(Sobre a escuta incondicionada..) -> vale muito a pena

abraços
guto 08/2010