segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A medusa e suas irmãs...




Três irmãs, três monstros, a cabeça aureolada de serpentes enfurecidas, presas de javali saindo dos lábios, mãos de bronze, asas de ouro: Medusa, Euríale e Esteno. Elas simbolizam o inimigo a combater. As deformações mostuosas da psique são devidas às forças pervertidas de três pulsões: sociabilidade, sexualidade, espiritualidade. Euríale seria a perversão sexual, Esteno a social, Medusa simbolizaria a principal destas pulsões: a pulsão espiritual e evolutiva, mas pervertida em estagnação vaidosa. Não se pode combater a culpabilidade vinda da exaltação vaidosa dos desejos senão esforçando-se por realizar a justa medida, a harmonia; é isso que simboliza, quando as Górgonas ou as Erínias perseguem alguém, à entrada do templo de Apolo, deus da harmonia, como num refúgio.
Quem via a cabeça de Medusa ficava petrificado. Isso não seria por ela reflectir a imagem de uma culpabilidade pessoal? Mas o reconhecimento da falta, num justo conhecimento de si, pode por si só perverter-se em exaspero doentio, em consciência escrupulosa e paralizante. Paul Diel observaa profundamente: "A confissão pode ser - quase sempre o é - uma forma específica da exaltação imaginativa: um remorso exagerado. O exagero da culpa inibe o esforço reparador. Só serve ao culpado para reflectir vaidosamente na complexidade, imaginada, única e de profundeza excepcional, da sua vida subconsciente... Não chega descobrir a culpa; é preciso suportar a sua visão de maneira objectiva, nem exaltada, nem inibida. A própria confissão deve ser isenta de excesso de vaidade e de culpabilidade."
Medusa simboliza a imagem deformada do eu... que petrifica de horror em vez de esclarecer na medida justa.

Fonte: Dicionário dos Símbolos, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Teorema.