Aos deuses, segundo as leis, presta justas homenagens;
Respeita o juramento, os heróis e os sábios;
Honra teus pais, teus reis, teus benfeitores;
Escolhe para teus amigos os melhores homens.
Sê obsequioso, sê fácil em negócio.
Não odeies teu amigo por faltas leves;
Serve com o teu poder a causa do bom direito:
Quem faz tudo o que pode faz sempre o que deve.
Mas sabe reprimir como um mestre severo,
O apetite, o sono, Vênus e a cólera.
Não peques contra a honra nem de longe nem de perto.
E só, sê para ti mesmo, rigorosa testemunha.
Sê justo em ações e não em palavras;
Não dês pretextos frívolos ao mal.
A sorte nos enriquece, ela pode empobrecer-nos:
Mas fracos ou poderosos devemos todos morrer.
Não sejas refratário à tua parte de dores.
Aceita o remédio útil e salutar,
E sabe que sempre os homens virtuosos,
São os menos infelizes dos mortais aflitos.
Que teu coração se resigne aos injustos colóquios;
Deixa falar o mundo e segue sempre teu caminho,
Mas não faças nada, sobretudo levado pelo exemplo
Que seja sem retidão e sem utilidade.
Faz caminhar em tua frente o conselho que te aclara
Para que a absurdidade não venha atrás.
A tolice é sempre a maior das desgraças
E o homem sem conselhos responde por seus erros.
Não obres sem saber, sê cioso para aprender.
Dá ao estudo um tempo que a felicidade deve restituir.
Não sejas negligente em cuidar da tua saúde;
Mas toma o necessário com sobriedade.
Tudo que não pode prejudicar é permitido na vida;
Sê elegante e puro sem excitar a inveja.
Foge à negligência e ao fausto insolente;
O luxo mais simples é o mais excelente.
Não procedas sem pensar no que vais fazer,
E reflete, à noite, sobre toda tua jornada.
Que fiz? Que ouvi? Que devo lastimar?
Para a justiça divina assim poderes subir
Eu tomo-te por testemunha: tetractys inefável,
Fonte inesgotável das formas e do tempo;
E tu que sabes orar, quando os deuses são por ti,
Conclui a tua obra e trabalha com fé.
Chegarás cedo e sem trabalho a conhecer
Donde procede, onde pára, para onde volta teu ser.
Sem temor e sem desejos saberás os segredos
Que a natureza vela aos mortais indiscretos.
Tu calcarás aos pés esta fraqueza humana
Que ao acaso e sem alvo conduz a fatalidade.
Saberás quem guia o futuro incerto,
E que demônio oculto segura os fios do destino.
Tu subirás então sobre o carro de luz.
Espírito vitorioso e rei da matéria,
Compreenderás de Deus o reino paternal
E poderás assentar-te numa calma eterna.